Vozes no parque (Anthony Browne)
Anthony Browne está de volta a revista e, novamente, com um livro que dá o que falar. Vozes no parque é misterioso e envolvente, e assim como a outra obra que já vimos do autor (Na floresta), ela conta com uma ilustração exuberante e muitos não-ditos, muitos segredos e conteúdos implícitos. É um livro que exige muita atenção do leitor, principalmente aos detalhes, como roupas, cores, formatos. Cada releitura é uma nova leitura.
Com o livro de hoje, somos surpreendidos quando nos surpreendemos ao perceber que 4 pessoas estava juntas no mesmo lugar, na mesma hora, mas vivendo dias completamente diferentes! Até mesmo vendo coisas diferentes! Quem diria que nossas emoções e estado de espírito poderiam mudar tanto nossa percepção.
Por isso, este é um daqueles livros que nos toca profundamente, sendo capaz explicita conteúdos e processos que não são fáceis de serem colocados em palavras. E como explicar às crianças o que há de inefável em nossas relações e no nosso dia-a-dia? Vamos deixar para que elas mesmas nos explique com ajuda de Manchinha e Carlos.
Pontos de conversa:
1) Emoções e sentimentos;
2) Relações familiares;
3) Cotidiano;
4) Animais de estimação;
5) Diversidade;
6) Diferenças sociais;
7) Infância e brincadeiras;
8) Preconceito;
9) Desemprego;
10) Parques e praças;
11) Comunidade e convivência;
12) Amizade e espontaneidade;
13) Transformações.
Dicas de mediação
>> Dicas gerais: Já no título da obra. o autor apresenta um recurso que vai usar ao longo do livro. Você reparou que a palavra vozes está escrita com diferentes fontes? Assim como as vozes tem seu próprio timbre, a vida das quatro personagens que vamos conhecer chega a gente com intensidade, cores e fontes únicas. Aconselhamos fortemente, que o mediador se familiarize com a obra, para aproveitar ao máximo as possibilidades de diálogo. Note o clima afetivo de cada personagem e pontue isso durante a contação. Também note o quanto o cenário muda não só quando muda de personagem, mas quando as relações entre os personagens mudam. <<
1) Primeira Voz: Mãe de Carlos. (Páginas 3 a 9).
A mãe de Carlos sai de sua casa e vai passear com filho e cão em um horário que parece ser marcado. Sentimentos que identificamos: nojo e medo. As árvores tem copa cheia cor amarela como se estivesse no outono.
a) A mãe de Carlos saí com ele e seu cão para passear. Algo chama atenção em sua fala, quando ela faz questão de frisar que Leopoldina não é um cão comum, trata-se de um labrador com pedigree. O que significa ter pedigree? (Pág. 3).
b) Outra coisa que chama atenção na página 3 é a diferença de tamanho entre os personagens e a casa. O que podemos inferir dessa imagem?
c) O pedigree de Leopoldina se contrasta com um vira-lata imundo. O que podemos pensar sobre a primeira voz? Ela diz ao seu filho para ficar sentado no banco. Como parece que seu filho está se sentindo? E Leopoldina? (Páginas 4 e 5).
d) Carlos some e sua mãe chama por ele, por um tempo que é "aparentemente infinito". (Págs. 6 e 7). Tendo como base o texto e as ilustrações, ajude as crianças a identificarem que possíveis sentimentos ela está sentindo. Já aconteceu delas perderem alguém no parque?
e) Ela então acha Carlos conversando com uma menina com aparência de malcuidada. O que pode estar acontecendo entre eles? (pág. 8).
f) "Voltamos para casa em silêncio", e de maneira impressionante, Anthony conseguiu ilustrar o silêncio. Na página 9, somos presenteados com uma ilustração riquíssima! Há muitos elementos a serem investigados com as crianças e muitas coisas curiosas (trilha de folhas, árvore em chamas... e opa cadê Carlos nesta imagem?).
2) Segunda Voz: Pai de Manchinha. (Páginas 10 a 15).
O cenário do pai de Manchinha é mais urbano, as árvores estão sem folhas, parece que é inverno. Ele também está indo ao parque, levando sua filha e o cachorro deles. Sentimentos que identificamos: tristeza, desânimo, tédio.
a) "Eu precisava sair de casa", é como a segunda voz se apresenta. Usando esse trecho da narrativa e a ilustração (página 10), podemos perguntar: Como será que eles está se sentindo? Como estar em casa faz com que ele se sinta? Você já sentiu algo parecido?
b) Na página 11, há uma ilustração magnífica- e também muito triste. Com ela podemos conhecer um pouco mais sobre o contexto e a cidade. Investigue cada elemento dessa ilustração com as crianças, da coca-cola derramada ao papai noel pedindo por trocados.
c) Nas páginas seguintes (12 e 13). O pai solta o cão no parque, desejando ter seu ânimo. Será que é o mesmo parque que a mãe de Carlos o levou? Que elementos há de comum e o que há de diferente? Nesse momento, vocês podem até voltar a história da primeira voz e comparar os parques (e... que tal achar a segunda voz naquele banco na página 6?).
d) Um novo dado de realidade chega a gente na página 14. Ele está procurando por um emprego. Aproveite para conversar com as crianças sobre isso, elas vêem relação entre o estado emocional do pai e o seu desemprego?
e) O ânimo do pai se transforma, graças a sua filha. Com essa transformação o mundo parece mudar também. Com cuidado, contemple junto com as crianças a ilustração da página 15, é parecido com o cenário da página 11. O que há de diferente entre a imagem da ida e a imagem da volta?
3) Terceira Voz: Carlos. (Páginas: 16 a 23).
Carlos é uma mistura de sentimentos, enquanto sua voz soa, ela se transforma. O que parece ser tristeza e medo, floresce em alegria e diversão ao conhecer Manchinha. De um cenário desértico nos deparamos com uma florida primavera, que, aos poucos, volta a se apagar com um cenário de fim de tarde.
a) Olhando para a janela, parecendo muito mais um adulto do que uma criança, a terceira voz diz: "Eu estava sozinho em casa, de novo.''. As crianças costumam ficar em casa sozinhas? O que elas gostam de fazer quando estão em casa?
b) As coisas não parecem menos chatas no parque (pág. 17). Há uma sombra sobre Carlos - de quem é essa sombra?
c) O chapéu da mãe está em outros lugares da imagem 17, provoque as crianças a pensarem porque isso está acontecendo.
d) O encontro de Carlos e Manchinha (ilustração em destaque) marca o encontro de dois mundos diferentes (página 18). Discuta com as crianças o que há de diferença entre o cenário deles.
e) Quando Carlos topa ir brincar com Manchinha o cenário do parque começa a mudar. O que está mudando? Outra coisa surpreendente nessa ilustração é que o escorregador saí dos limites da página - parece que Carlos e Manchinha vão escorregar do livro e cair em nosso mundo! (Pág. 19).
f) A brincadeira das duas crianças e dos cachorros colorem as páginas - mais uma vez, aproveite para ler as ilustrações junto com as crianças (por que os rabos dos cães estão trocados na página 20) e a cara de Carlos no trepa-trepa parece expressar? (pág. 21).
4) Quarta Voz: Manchinha. (Páginas: 24 a 32).
Manchinha está feliz em ir ao parque com seu pai e Pedro, seu sentimento é intenso e coloque com cores vivas o parque. O cenário é quase onírico, muito fértil repleto de frutas e flores. Sentimentos: alegria, esperança, espontaneidade.
a) Chapéus são elementos bem interessantes no cenário de Manchinha - estejam atentos ao gorro do pai e ao chapéu icônico da mãe de Carlos!
b) Pedro (o cão) vai brincar com outro cão e sua dona fica uma fera. Quem Manchinha está chamando de chatonilda? O que seus olhos parecem dizer na ilustração (25)?
c) Pedro e Leopoldina, Carlos e Manchinha brincam bastante (páginas 26 a 29) - do que eles brincaram ao longo do dia? Ajude as crianças a lembrar o que Carlos falou sobre o dia.
d) Na despedida de Carlos ou - como disse a voz de Manchinha - Carlinhos, o cenário muda um pouco também. É uma oportunidade de ver a mesma cena sob as três perspectivas, voltando nas páginas 9 e 23. É impressão ou a sombra de Carlos parece estar usando a toca que seu pai usa? Investigue os elementos com as crianças.
e) O livro termina com a flor que Carlinhos deu a ela em uma linda caneca - o que há nessa caneca além da flor?
Dicas de atividades:
1) Convide as crianças a narrar/interpretar ou desenhar um evento em sua vida duas vezes, solicitando que elas façam duas vezes, uma vez expressando um sentimento (como tristeza/raiva/medo) e da segunda vez focando em outro sentimento (como alegria/entusiasmo/surpresa).