Papai e eu, às vezes (María Wernicke)
Papai e eu, às vezes é um daqueles livros emocionantes, que mexe tanto com quem conta a história conto quem escuta. Há ilustrações suaves e em preto e branco e ilustrações infantis que compõem o quadro e são essenciais para a narrativa. Primeiramente, estas ilustrações podem parecer sombrias e tristes, mas remetem também a nostalgia e a memórias. Não ache por nenhum momento que este tipo de ilustração será desinteressante as crianças.
É um livro muito rico, que não fala somente da presença física de um cuidador, mas da disponibilidade afetiva, dos encontros e desencontros entre nossos desejos e nossos afetos. Este é um dos porquês que torna este um livro uma excelente ponte para conseguirmos conversar com nossos filhos (nossos alunos, nossos orientandos, nossos afilhados e enteados) sobre relação com eles. Abre espaço para expormos nossos desejos, obrigações e necessidades que algumas vezes não irão se convergir com os desejos e necessidades daqueles que cuidamos. Com a postura aberta e acolhedora do mediador, muitas dessas lembranças de encontros e desencontros afetivos vão surgir e vão ser compartilhadas pelas as crianças.
Pontos de conversa:
1) Paternidade e maternidade;
2) Divórcio e perdas;
3) Diversidade nos arranjos familiares;
4) Disponibilidade afetiva;
5) Encontros e desencontros;
6) Brincadeiras familiares;
7) "Fase dos porquês";
8) Aprendendo juntos;
9) Auto-biografia;
10) Jardinagem e hobbies;
11) Escrevendo e desenhando a própria história;
12) Imagem idealizada de nossos pais;
13) Decepções e brigas.
Dicas de mediação:
1) Mais uma vez, é com a capa e o título que abrimos nossas intervenções. Convenhamos que o título é curioso, e instiga as crianças a pensarem:
a) Papai e eu, pergunte as crianças quem mora com seus respectivos papais, compartilhe com elas sua história também. Não cometa o erro de achar que esse livro é só para crianças que moram com os pais, ou só para aquelas que tenham pais separados. Amplie a compreensão delas sobre o título, percebendo que múltiplos arranjos e vivências podem se identificar com o título.
b) Às vezes, é uma daquelas expressões idiomáticas curiosas, que são difíceis de serem explicadas, mas, paradoxalmente, parece ser compreendida por todo mundo. Por isso provoque as crianças: "Se sou eu e papai, às vezes... como são nas outras vezes?".
2) Uma orientação para todo o livro: deixe as crianças explorarem as imagens e incentive elas criarem relações entre as ilustrações e a narrativa.
3) Leia a página 5 e a página 7. A protagonista diz que às vezes quer estar com seu pai, mas que ele nem sempre quer estar com ela. Pergunte as crianças o que o pai está fazendo na aqui? (referente a ilustração na página 8), por que outras razões levariam o pai a não querer estar com a filha?
4) Note a inversão que ocorre nas páginas seguintes, desta vez é o pai que quer estar com ela, mas ela que não quer estar com seu pai. Será que isso já aconteceu com as crianças? O que a protagonista parece estar fazendo na ilustração?
5) Antes de ficarmos muito tristes, o livro muda um pouco nas páginas 11 e 12, descobrirmos que às vezes, eles querem (os dois estar juntos). O que eles estão fazendo? Pergunte também as crianças o que elas gostam de fazer com seus pais. 6) Quando estão juntos a protagonista pergunta ao seu pai coisas que quer entender (páginas 13 e 14). Indague: o que será que eles estão fazendo? Que perguntas ela pode estar fazendo a seu pai?
7) Há coisas que o pai explica a sua filha (páginas 15 e 16). Peça para as crianças notarem o detalhe na página 15 (pai e filha olhando para o telhado) e então aponte para os gatos que estão atracados e enroscados ali para perguntar: o que será que o pai está explicando a ela?.
8) "Ainda que não pergunte" (página 17), o pai explica. Ajude as crianças a lerem a ilustração, que pergunta será esta que ela não fez?
9) Nas páginas seguintes, da 19 a 24, a protagonista conta das vezes que os dois estão juntos, mas em silêncio, sem conversar. Após perguntar onde eles estão e o que estão fazendo em cada ilustração, pergunte em que momentos as crianças ficam em sozinho com seu pai.
10) Mas o silêncio é rompido, a cada nova pergunta e "até que lhe mostre algo e ele diz o nome" (página 25). O que será que ela está mostrando a seu pai na página 26?
11) Eles descobrem algo que está acontecendo embaixo da mesa! E vemos que um dos gatinhos que estava no telhado voltou. O que está acontecendo? (Página 27).
12) Nas páginas seguintes, encaminhand0-se para o desfecho do livro, a protagonista nos resume o livro, retomando os momentos que o pai não está disponível para ela, e outros em que ela não está disponível para o pai... mas então o livro termina de maneira surpreendente nas páginas 33 e 34, com apenas duas palavras, "às vezes" e uma linda ilustração. Releia, se necessário o que está nas páginas 29 e 31 para então perguntar: "o que acontece nas outras vezes?".
13) Não perca a oportunidade de ler a biografia de María Wernicke na contra capa do livro e contar para as crianças, provoquem elas a pensar as semelhanças entre a vida de María e o livro que acabou de ser contado. Descubra com as crianças aquela dose de auto-biografia que faz este livro ser tão acolhedor.
Gostou de nossas dicas? Confira nossa experiência de mediação com esta obra!
http://livrosabertosaquitodoscontam.blogspot.com.br/2016/11/papai-e-eu-as-vezes-uma-historia.html
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